Gatos e Trelas Não Combinam
A moda de passear gatos à trela está aí. A intenção é seguramente boa, mas serão estes passeios bons para os gatos? À primeira vista, pode parecer uma excelente forma de os nossos companheiros felinos se exercitarem e desfrutarem de estímulos diferentes, mas o resultado pode ser desastroso. Quando passeamos o nosso gato à trela, julgamos que o fazemos em segurança, mas estamos inconscientes da fragilidade da situação e dos graves perigos a que o estamos a expor. Por um lado, numa situação de pânico — que, no exterior, pode ocorrer a qualquer momento — os gatos podem libertar-se do peitoral, por melhor que ele seja. Por outro lado, a maioria das ruas das nossas cidades é um ambiente péssimo para os gatos, muito longe do que seria um ambiente calmo, e eles não se satisfazem simplesmente por estar na rua, ao contrário dos cães.
É preciso perceber que os gatos não gostam de socializar com estranhos (sejam eles gatos, humanos ou outros animais) e tão-pouco apreciam ou exploram os estímulos exteriores do mundo como os cães. Os gatos gostam de rotina e preferem estar num local familiar e sossegado, explorando o ambiente circundante com calma. São animais que gostam de ter controlo sobre o seu ambiente e, por isso, forçá-los a ir para um local que não conhecem causa-lhes angústia, agitação e stress. Ora, quando sente perigo, um gato tem o forte instinto de sair a correr e esconder-se. E, infelizmente, as ruas são propícias a eventos repentinos e imprevisíveis que podem assustar um gato e fazê-lo querer fugir. Temos o barulho do tráfego rodoviário (sobretudo dos escapes de motas, sirenes e buzinas), cães soltos, cães atrelados que surgem de repente numa esquina, vozes e ruídos não familiares, trotinetas a passar de raspão, etc.
Numa situação de aflição, o instinto de um gato é tentar libertar-se do peitoral e fugir para se esconder no primeiro refúgio que encontrar (e que pode ser algo inacessível como um bueiro, um tubo de canalização ou uma fenda numa paredes). Há gatos que tentam escapar trepando o que estiver mais perto, seja isso um muro, uma árvore ou o nosso corpo... Às vezes, correndo o risco de o magoarmos seriamente com um puxão mais forte, lá conseguimos evitar que o nosso gato se liberte. Outras vezes, não... E, quando este tipo de fugas acontece, é muito mais difícil recuperarmos o nosso gato. Até podemos ter a sorte de ele se refugiar ali perto debaixo de um carro e deixar-se ficar. Mas, na maioria das vezes, isso não acontece... O mais provável é que o nosso gato corra sem destino até o perdermos de vista. E de nada adianta chamar por ele. Um gato assustado ou stressado não responde ao chamamento.
Claro que, nas redes sociais, vemos fotografias espectaculares de gatos a passear à trela em parques verdejantes, mas isso não é uma realidade que se aplique à maioria dos gatos ou das pessoas. Alguns gatos até poderiam apreciar um passeio na natureza, mas poucas pessoas têm a sorte de morar ao lado de uma área verde e tão-pouco se justifica transportar rotineiramente um gato até um parque, pois as viagens de ida e de regresso (tipicamente fonte de ansiedade para os gatos) iriam estragar a experiência. Além de que também há casos angustiantes de fugas de gatos no meio da natureza, sendo que é muito mais complicado resgatar um gato nestes locais e ainda mais difícil que ele consiga sobreviver.
Mesmo que o nosso gato seja um valentão sociável sem medos e que estejamos dispostos a passear com ele satisfazendo a vontade dele e os caprichos típicos de um gato (caminhar em zigue-zague, ficar 15 minutos sentado simplesmente a observar ou a fazer a limpeza), há outros riscos a ter em conta, como a probabilidade de contraírem doenças (incluindo doenças infecto-contagiosas, umas mais graves que outras), ficarem expostos a ectoparasitas (especialmente pulgas e carraças) e endoparasitas (sobretudo parasitas intestinais) ou até ingerirem toxinas (como pesticidas ou insecticidas). Riscos idênticos aos de um gato que passeia sozinho...
Embora haja gatos cujo temperamento possa ser compatível com serem passeados à trela, o motivo principal para não o fazermos são os perigos a que ficam expostos, e que até podem ser superiores ao risco de os deixarmos passearem sozinhos nas imediações de casa. Manter o seu gato seguro e feliz dentro da sua propriedade (com brinquedos e distracções que o estimulem física e mentalmente) é mais benéfico para o bem-estar e para a saúde dele. Se tiver uma área exterior onde não seja possível instalar uma vedação à prova de fuga, poderá justificar-se experimentar passeá-lo à trela dentro da sua propriedade, apenas e sempre com supervisão directa.
Se, para nós, a segurança dos nossos gatos é algo de fundamental, é difícil justificar o risco de passeios à trela fora de casa. Se, mesmo assim, estiver a considerar passear o seu gato à trela, é indispensável muita cautela e um rigoroso planeamento de mitigação de riscos. Utilize uma trela de qualidade e um peitoral seguro e bem ajustado, específico para gatos. Faça passeios curtos e limite-os a uma zona calma. Mantenha a vacinação e as desparasitações em dia. Identifique o seu gato com um microchip e com uma medalha com contactos (numa coleira com fecho de segurança, específica para gatos). E, acima de tudo, observe atentamente o comportamento e a reacção emocional do seu gato (a postura, a cauda, as orelhas) e tenha sempre em conta o temperamento e a personalidade dele.