O Seu Animal Sai Sozinho?
Se o seu animal sai de casa sozinho para passear, por ele e pelos outros, não o deixe mais sair sem supervisão! Inteire-se dos factos e das graves consequências, e veja mais ao fundo da página como fazer a transição.
Os Factos e as Consequências
Acabe com essas saídas para não aumentar o número de animais nas ruas! É muito provável que um animal não esterilizado que passeia sozinho acabe por se reproduzir repetidamente com animais na rua. Já pensou que um macho não esterilizado pode engravidar várias fêmeas num único mês? Uma das vítimas pode ser aquela gatinha que vive nos quintais vizinhos e vai sobrevivendo à custa dos restos que lhe vão dando ou aquela cadelita tímida que apareceu no terreno baldio do quarteirão e lá tem vivido escondida... Tendo em conta que uma gata de rua pode ter 3-5 crias por ninhada e entrar no cio 3-4 vezes por ano e que uma cadela pode ter 4-8 crias por ninhada e costuma entrar no cio 2 vezes por ano, já imaginou a quantidade de cachorrinhos e gatinhos com futuro muito sombrio que o seu cão ou gato pode gerar em pouco tempo?
E quem cuidará destas mães e destes filhos órfãos de pai? São estas mães, muitas delas ainda muito jovens, que têm depois o enorme desespero de ter ninhada após ninhada na rua. Sozinhas, sem abrigo e sem alimento suficiente para se manterem a elas e às suas crias, a vida destas mães é sempre sofrida e muitas acabam por não resistir... Mas a tragédia e o sofrimento não se ficam apenas pelas mães. Muitas das crias morrem antes dos 2 meses de vida por doença ou subnutrição, outras morrem por atropelamento, soterramento, maus-tratos... Aos filhotes que sobrevivem, espera-os a mesma vida árdua de fome, abandono e sofrimento que a das mães. E também eles vão acabar por se reproduzir com outros animais e, dessa forma, gerar ainda mais animais desamparados nas ruas. Saiba um pouco mais aqui
O número excessivo de animais nas ruas do nosso país deve-se sobretudo a ninhadas geradas por cães e gatos que foram simplesmente "dar a sua voltinha". Praticamente todos os animais de rua fazem parte da primeira, segunda, terceira, quarta ou enésima geração de descendentes directos de animais que alguém deixou passear livremente. Deixar um animal não esterilizado passear sozinho é contribuir directamente para piorar o gravíssimo problema de superpopulação de animais de companhia, o que resulta em muita fome e muito sofrimento de milhares de animais que morrem nas ruas ou vão parar aos canis e gatis municipais. É um círculo vicioso que tem de ser quebrado e está nas suas mãos ajudar a mudar esta realidade. Para esterilizar o seu animal, informe-se junto das associações da sua zona sobre a existência de veterinários com esterilizações de qualidade a preços mais acessíveis (pode consultar aqui uma lista de associações nacionais).
- Acabe com essas saídas pela segurança e saúde do seu próprio animal! Entre outros perigos sempre à espreita, ao passear sem supervisão, o seu animal está sujeito a ser mortalmente atropelado ou envenenado, fica susceptível a contrair doenças (incluindo doenças sexualmente transmissíveis ou infecto-contagiosas graves, como FIV, FeLV ou PIF nos gatos), corre o risco de cair ou entrar num local de onde não conseguirá sair sozinho (poço, tanque, casa desabitada), pode ser ferido por outros animais, fica exposto a todo o tipo de maus-tratos por parte de pessoas intolerantes ou mal-intencionadas, e pode ser raptado para servir de treino para lutas de cães, para ser usado para reprodução ou para ser vendido clandestinamente. Um animal que necessita de medicação diária pode ficar gravemente doente ou falecer se não for medicado a tempo e horas. Há justificação válida para fazer um membro da sua família correr desnecessariamente tamanhos riscos?
Acabe com essas saídas pela vida e segurança de outros animais! Não permita que o seu cão incomode outros, inclusive cães que estejam a ser passeados pela trela, e quiçá nada tolerantes para com outros cães. Infelizmente, são também demasiado frequentes os casos em que gatos de rua são mortos por cães que estavam simplesmente a "dar a sua voltinha". Um fim de vida trágico para animais que já tinham uma vida demasiado sofrida e um acontecimento traumático para quem tenta proteger estes animais de rua à custa de muito sacrifício... Infelizmente, são também demasiadas as aves que são mortas por cães e gatos habituados a ir "dar a sua voltinha". A conveniência de deixar o seu animal passear sozinho justifica a morte de outros animais?
Por outro lado, quando se trata de uma fêmea no cio que passeia sozinha, é garantida comoção por onde quer que ela passe. Reagindo aos seus instintos de procriação, os machos não medem esforços para chegar a uma fêmea no cio, inclusive saltando de janelas, cavando túneis, arrombando portas e avançando portões ou altas vedações. Já pensou nos cães/gatos que fogem e ficam expostos aos perigos da rua e a lutas com outros machos quando a sua cadela/gata passeia sozinha no cio?
- Acabe com essas saídas pela boa vizinhança e pela integridade física do seu animal! Imagine que dedica grande parte do seu tempo livre a cuidar do seu estimado jardim, mas que a gata dos vizinhos de cima insiste em esburacar a terra para fazer as necessidades diárias. Ou imagine que se preza por ter um pátio limpo e bem cuidado, mas que o gato do vizinho do lado insiste em marcar religiosamente as paredes do pátio com o terrível odor da sua urina. Imagine ainda que o cão de uma vizinha do fundo da rua teima em urinar no seu portão porque sente o cheiro dos seus cães. Vale a pena sujeitar o seu animal à ira (compreensível) dos seus vizinhos?
- Acabe com essas saídas pela salubridade das ruas e pela tolerância da sociedade! Há ruas e jardins que parecem autênticos campos armadilhados de tantas fezes que têm. Já assistiu à desolação de uma criança ou de um invisual quando é "apanhado" numa dessas desagradáveis armadilhas? Tem noção do descontentamento da comunidade para com tamanha poluição desnecessária? Por outro lado, há também que saber respeitar quem tem medo de cães e que, naturalmente, não se sentirá nada tranquilo ao ver um cão à solta. Não contribua para fomentar a intolerância para com os cães em geral e para com quem tem cães (inclusive aqueles que cumprem as regras do civismo). Acompanhe o seu animal e apanhe responsavelmente os dejectos dele.
- Acabe com essas saídas pela segurança rodoviária! Já alguma vez teve de se desviar em desespero de um animal que se atravessou à sua frente na estrada? Como se sentiria se soubesse que o seu animal provocou um acidente mortal enquanto "dava a sua voltinha"? Não permita que o seu animal se sujeite a ele e a outros a tamanho perigo.
Como Fazer a Transição
Agora que tem noção dos riscos e das graves consequências de o seu animal passear sozinho, p.f. acabe com essas saídas para o proteger a ele e a terceiros. Particularmente se o seu animal estiver habituado a sair sozinho há muito tempo e por períodos longos, a transição requer dedicação e paciência, mas não é de todo uma missão impossível. Seguem-se algumas sugestões que podem ajudar.
- Se tiver um jardim/quintal, é essencial assegurar-se de que o seu animal não consegue transpor a vedação. Pode nem sequer ser necessário altear os muros, bastando montar um sistema de contenção (eis uma ideia para cães). Embora os gatos sejam excelentes trepadores, é possível fazer barreiras de contenção simples e eficazes: eis um exemplo, outro exemplo, mais um exemplo e ainda outro exemplo. Se o seu gato trepar por uma árvore para sair do jardim, experimente vedar-lhe a subida com algo tão simples quanto um colar isabelino (cone veterinário) de tamanho extra-grande preso em torno do tronco da árvore com a abertura virada para baixo, a mais de 1,5 m de altura.
- Se o seu animal sair por uma janela ou varanda, há protecções para todo o tipo de necessidades: grades protectoras, painéis de rede mosquiteira e até mesmo rede para terraços e varandas. Desta forma, o seu animal pode continuar a deliciar-se com o sol e ar fresco em segurança. Se o problema for a abertura do portão quando se entra ou sai com o carro, analise instalar um portão intermédio. Em alternativa, feche primeiro o seu animal em casa, saia com o carro e entre depois a pé para deixar o seu animal seguro no jardim. Ao chegar a casa, efectue o procedimento inverso.
- No caso de cães, durante as primeiras semanas, saia pelo menos durante meia hora 3-4 vezes por dia com o seu animal para passearem os dois juntos, utilizando uma trela resistente (se possível, com 2 a 2,5 m de comprimento para que o seu animal tenha alguma liberdade de movimentos, mas seja fácil de controlar). Se preferir uma trela extensível, utilize uma trela sólida e de qualidade (em fita larga e não em fio) até 5 m de comprimento, segurando sempre a pega firmemente na mão, pois se a deixar cair o seu animal pode assustar-se e afastar-se, e depois o barulho da pega a arrastar no chão pode fazê-lo correr assustado continuamente até sair de vista. Estabeleça uma rotina para os passeios, para que o seu animal se habitue a fazer as necessidades apenas quando vai à rua.
- No caso de gatos, se o seu animal estiver habituado a passar a maior parte do tempo fora e estiver sempre deserto por sair de casa, será provavelmente melhor ir diminuindo gradualmente o número de saídas e a duração delas, até não o deixar mais sair de todo. Em qualquer caso, quer faça uma transição gradual ou uma interdição imediata das saídas, dê sempre muita atenção, comida apetitosa e entretenimento ao seu animal dentro de casa. Coloque-lhe também à disposição duas caixas de areia para ele fazer as necessidades, uma delas junto à porta ou janela por onde ele saía de casa, e limpe-as sempre de manhã e à noite. É também importante oferecer-lhe algo onde afiar as unhas (por exemplo, um poste de sisal ou um bloco de cartão) e erva adequada para se purgar. A transição será fácil para a maioria dos gatos e mais complicada para outros, mas as primeiras 2-3 semanas serão as mais difíceis. Nesta fase inicial, é essencial que seja persistente e paciente, e que não ceda. É natural que o seu gato mie incessantemente para sair (se o impedir de dormir, experimente usar tampões auriculares anti-ruído), que raspe à porta ou faça as necessidades fora do sítio. Mas ele acabará por se habituar à nova realidade e, com a sua ajuda, em poucos meses será um gato com uma vida feliz e segura.
- Quer seja macho ou fêmea, se o seu animal não estiver esterilizado, considere seriamente esterilizá-lo. Um animal esterilizado torna-se muito mais caseiro, pois a esterilização tem um efeito bastante calmante no comportamento dos animais por deixarem de ter instintos de procriação. Contudo, particularmente nos machos, são necessários alguns meses até se começar a notar uma acalmia no comportamento. Se o seu gato marcar território com urina, aplique sem falta um neutralizador do odor de urina de gato (por exemplo, o UF2000). Os produtos de limpeza usuais apenas mascaram o odor ou, caso tenham amoníaco, intensificam-no, e o seu gato continuará a urinar nos mesmos locais.
- Enriqueça o ambiente do seu animal e ofereça-lhe brinquedos estimulantes e seguros para ele se entreter. Para cães, um Kong costuma ser uma escolha acertada. É um brinquedo resistente com abertura para encher com guloseimas e manterá o seu cão ocupado e contente com o recheio (eis uma receita). Para gatos, pode experimentar um Pipolino (eis um trio satisfeito). Os gatos gostam de observar o que se passa à sua volta, de preferência a partir de um ponto elevado, por isso tente colocar-lhe camas ou almofadas confortáveis em "postos de vigia" e perto de janelas, ou oferecer-lhe um ginásio alto. Há vários tipos de ginásios que os deixam entretidos e satisfeitos (eis um exemplo, outro exemplo e ainda outro exemplo). Brinquedos que tenham enchimento de uma planta conhecida como "catnip" também costumam deixar muitos gatos verdadeiramente extasiados (os que costumam ter mais sucesso são os de formato semelhante a um rolo, com largura e comprimento suficiente para que os gatos os possam agarrar com todas as patas, como se pode ver aqui e aqui). Mas há muitos brinquedos simples que deliciam qualquer gato, como uma bola de folha de alumínio, uma caixa de cartão ou uma simples caneta. Seja qual for o brinquedo que escolher para o seu cão ou gato, certifique-se de que o mesmo não é demasiado pequeno para que o seu animal o engula e inspeccione-o regularmente para verificar se continua em bom estado. Quando observar que o seu animal está a perder interesse num brinquedo, introduza um novo.
- Se o seu gato ficar verdadeiramente stressado com a mudança, experimente um difusor Feliway durante os primeiros meses de transição. Infelizmente, implica um gasto mensal significativo, mas pode ser uma ajuda determinante para o seu animal.
- A maioria dos animais gosta de ter um companheiro da mesma espécie. Caso o seu animal seja "filho único", se tiver possibilidade e disponibilidade, pondere adoptar outro animal do sexo oposto para lhe fazer companhia (mas tenha o cuidado de esterilizar pelo menos um deles para que não procriem).
Nota Importante: ao contrário do que muitos pensam, um gato pode ser perfeitamente feliz vivendo apenas dentro de casa. Na realidade, como muitas pessoas que resgataram gatos de rua podem atestar, após algum tempo de segurança e conforto, esses gatos têm geralmente pavor de sair de casa. A chave está em oferecer ao seu gato aquilo de que qualquer gato gosta: atenção, companhia, mimos, diversão, paparoca boa e um lugar seguro de onde possa observar o que se passa lá fora, se possível com sol!